É
difícil de imaginar um mundo sem os benefícios da eletricidade e do transporte
motorizado. O progresso material da humanidade está baseado no seu uso
crescente sob muitas formas.
Sem
eletricidade viveríamos no escuro, sem motores e sem água canalizada. Sem
transporte motorizado estaríamos dependendo da tração animal para a
movimentação de pessoas e de mercadorias.
A
produção de eletricidade e a motorização dos transportes são dois elementos
essenciais das sociedades modernas em que vivemos. Para garanti-los, são
necessárias grandes obras de infraestrutura.
No
Sudeste e no Sul do Brasil, beneficiando-se de uma geografia favorável, a opção
preferencial para a produção de eletricidade foi, até agora, a construção de
grandes hidrelétricas, que durante um século garantiram energia elétrica
abundante e barata. Itaipu é um exemplo desse tipo de usina.
Com
o petróleo nossa geografia não foi tão favorável e só recentemente deixamos de
importá-lo graças à exploração no pré-sal – a profundidades cada vez maiores, a
grandes distâncias da costa e em depósitos que se situam abaixo de uma espessa
camada de sal.
Os
dois sistemas de produção de energia no Brasil estão atravessando uma séria
crise. Isso também ocorre em outros setores da infraestrutura, como portos e
estradas, e o governo mostra-se incapaz de enfrentá-los.
No
setor de eletricidade, a origem dos problemas foi o abandono gradual, nas
últimas décadas, da construção de reservatórios de água que garantissem a sua
produção nas usinas hidrelétricas em anos de seca, que, aliás, se estão
tornando mais frequentes. Uma das razões é a oposição dos ambientalistas
radicais.
A
verdade é que, mesmo quando ocorrem impactos significativos, é preciso comparar
os custos ambientais e sociais decorrentes dos reservatórios com os benefícios,
em geral muito maiores, para as populações.
Além
de hidrelétricas, a solução dos problemas de produção de eletricidade passa
pelo aproveitamento de outras formas de energia. A biomassa, por exemplo,
poderia gerar significativa quantidade de energia. A energia eólica também
poderia contribuir, mas os problemas de interligação das máquinas às redes de
transmissão teriam de ser resolvidos. Alguns parques eólicos já construídos
estão ociosos por falta de linhas de transmissão.
O sistema
de transmissão da rede interligada nacional precisa ser reforçado para evitar falhas,
acidentais, por falha humana ou à falta de manutenção. Muitos
"apagões" poderiam ser evitados com a introdução de redundâncias no
sistema, algumas de custo elevado, mas que protegeriam a sociedade dos sérios problemas
de falhas no fornecimento de energia elétrica.
O
sistema de leilões adotado pelo governo federal para o aumento da produção de
eletricidade, em que todas as fontes de energia concorrem em igualdade de
condições, é também uma das causas dos problemas. Garantir um custo final mais
baixo da eletricidade, que é o objetivo dos leilões, é resultado de uma visão
ideológica, e não técnica, da questão.
Resolver
esses problemas exigirá mais planejamento e menos ideologia. E abriria caminho
para a produção da energia necessária para sustentar um novo ciclo de
desenvolvimento no País.