É um desafio encontrar profissionais que trabalham em
projetos eletrônicos insatisfeitos com a atividade que exercem. Não com a
empresa, seus chefes ou um projeto em particular, mas infelizes com a arte de
trabalhar com produtos eletrônicos.
Trabalho há mais de 30 anos no setor e não lembro alguém
que tenha abandonado a eletrônica por vontade própria, para fazer outra coisa.
Também não sei de algum engenheiro ou técnico que tivesse começado a “mexer”
com eletrônica só depois de iniciar os estudos.
De todos os campos da engenharia, a eletrônica é a
única que pode funcionar como hobby. Não existem engenheiros civis amadores. O
mesmo se pode dizer da arquitetura e da engenharia elétrica pura. Mesmo os
químicos, em que pese a profusão de kits de experiências no mercado, o custo de
um laboratório mediano é alto.
A eletrônica é diferente. Um garoto de 12 anos pode
comprar um multímetro simples com sua mesada, juntar 50 reais em componentes e
mais aquela televisão quebrada da avó, e já pode dar asas à imaginação e ao
talento para produzir um novo receptor de rádio, um distorcedor para a guitarra
de uma amigo ou qualquer outra coisa que sua imaginação (e capacidade) consigam
montar.
Pode conseguir com facilidade um punhado de
acionadores de disco quebrados e estará entrando no fascinante mundo da
mecatrônica. Se for suficientemente maluco, pedirá um emulador de 250 reais dólares
de aniversário e um osciloscópio simples no Natal, e terá um bom laboratório à
sua disposição. O resto dos instrumentos poderá montar ele mesmo – não há
limites.
A informação é farta. Excelentes publicações nas
bancas, tutoriais e artigos técnicos sobre tudo o que quiser saber na internet.
Nada, mas nada mesmo lhe será sonegado.
Projetistas de eletrônica começam cedo, muito antes
da educação formal na área. Milhares de jovens em todo o Brasil empunham ferros
de solda para tornar realidade suas criações. Comunicam-se, trocam idéias, são
entusiasmados e muito frequentemente incentivados por seus pais, que vêem na
atividade uma sadia alternativa aos problemas da sociedade moderna.
Acredito que é preciso criar oportunidades e
incentivar esses iniciantes. Refletir um pouco sobre a correta exploração desse
extraordinário potencial humano, do ponto de vista social e estratégico.
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