A eletrônica é uma tecnologia
peculiar. De todos os campos da engenharia é a única que pode funcionar como
hobby. Não existem engenheiros civis amadores (construir pontes por esporte não
é exatamente uma atividade acessível). O mesmo se pode dizer da arquitetura e
da engenharia elétrica pura. Mesmo os químicos, em que pese a profusão de kits
de experiências no mercado, não podem ir muito longe sem ter que vender a casa
para comprar todo o equipamento necessário a um laboratório razoável.
A eletrônica é diferente. Um garoto de 12 anos
pode comprar um multímetro simples com sua mesada, juntar 50 reais em
componentes e mais aquela televisão quebrada da avó, e já pode dar asas à
imaginação e ao talento para produzir um amplificador de som, um distorcedor
para a guitarra de uma amigo ou qualquer outra coisa que sua imaginação (e
capacidade) consiga montar.
Pode
conseguir com facilidade um punhado de acionadores de disco quebrados e estará
entrando no fascinante mundo da mecatrônica. Se for suficientemente aficionado,
pedirá um emulador de 150 reais de aniversário e um osciloscópio simples no
Natal, e terá um bom laboratório à sua disposição. O resto dos instrumentos
poderá montar ele mesmo – não há limites.
A informação é farta. Excelentes publicações
nas bancas, tutoriais, artigos técnicos, softwares simuladores gratuitos,
informações sobre tudo o que quiser saber na Internet. Nada, mas nada mesmo lhe
será sonegado.
Projetistas de eletrônica começam cedo, muito
antes da educação formal na área. Milhares de jovens em todo o Brasil empunham
ferros de solda para tornar realidade suas criações. Comunicam-se, trocam ideias,
são entusiasmados e muito frequentemente incentivados por seus pais, que vêem
na atividade uma sadia alternativa aos problemas da sociedade moderna.
E aonde quero chegar com essa conversa?
Acredito que é preciso criar oportunidades e incentivar esses iniciantes.
Refletir um pouco sobre a correta exploração desse extraordinário potencial
humano, do ponto de vista social e estratégico.
Nossas empresas precisam – e vão precisar
muito mais no futuro – de talentos genuínos, comprometidos com nossa
tecnologia, capazes de inovar, de refrescar as ideias da indústria e gerar produtos
competitivos. As empresas vão precisar desses jovens entusiastas da eletrônica.
Não é poesia: é questão de vida ou morte para o setor.