Ser competente não é sinônimo de conhecimentos, mas de ter a capacidade de aprender, a cada dia, a partir de sua própria experiência.


sábado, 13 de setembro de 2014

Fora de série: sorte e oportunidade




Adaptado de Malcolm Gladwell: “Fora de série: outliers”.



No início da década de 1970 os computadores eram do tamanho de salas. Uma única máquina – que talvez tivesse menos potência e memória do que um micro-ondas atual – podia custar mais de um milhão de dólares. Computadores eram raros. Mesmo quando se encontrava um, o acesso ele era difícil. Quem conseguia pagava uma fortuna pelas horas de utilização.



Além disso, a programação em si era extremamente tediosa. Naquela época, os programas de computador eram criados em cartões de cartolina. Marcava-se cada linha de código com uma perfuradora. Um programa complexo poderia incluir centenas, senão milhares, de cartões, que eram agrupados em altas pilhas. Depois que um programa era perfurado, o programador o levava a um mainframe[i] e entregava as pilhas de cartões a um operador, que se comprometia a executá-lo.



Os computadores, no entanto, só conseguiam lidar com uma tarefa de cada vez. Por isso, dependendo do número de clientes à sua frente na fila, o programador esperava por horas ou até dias na fila, o programador esperava por horas ou até dias para pegar os cartões de volta. E, caso tivesse cometido um erro, ainda que fosse de digitação, precisava recolher o material, descobrir a falha e recomeçar todo o processo.



Naquelas circunstâncias, era dificílimo alguém se tornar especialista em programação. Com certeza, realizar essa façanha com pouco mais de 20 anos era praticamente impossível. Se uma pessoa só conseguia se dedicar à atividade de programação por alguns minutos em cada hora que passava na sala do computador, como poderia obter 10 mil horas de prática?



Foi somente em meados da década de 1960 que surgiu uma solução para o problema. Os computadores se tornaram poderosos o bastante para lidar com mais de um “compromisso” de cada vez. Os cientistas da área constataram que, se o sistema operacional fosse reescrito, o tempo do computador poderia ser compartilhado, isto é, a máquina seria terminada para se ocupar de centenas de tarefas ao mesmo tempo.



Graças a isso, os programadores não precisavam mais entregar fisicamente as pilhas de cartões ao operador. Era possível construir dezenas de terminais e ligá-los a um mainframe por uma linha telefônica, o que permitia que todos trabalhassem on-line e ao mesmo tempo.



O tempo compartilhado era interativo: o programa solicitava uma resposta, aguardava até que fosse digitada, trabalhava nela e mostrava o resultado – tudo em tempo real[ii]. Nesse momento, entrou em cena a Universidade de Michigan, uma das primeiras instituições do gênero no mundo a adotar o tempo compartilhado. Em 1967, um protótipo do sistema estava em operação ali. No início da década de 1970, seu poder de processamento de dados já era suficiente para permitir que 100 programadores trabalhassem ao mesmo tempo no Centro de Computação.



[i] Um mainframe é um computador de grande porte, dedicado normalmente ao processamento de um volume grande de informações. Os mainframes são capazes de oferecer serviços de processamento a milhares de usuários através de milhares de terminais conectados diretamente ou através de uma rede. Embora venham perdendo espaço para os servidores de arquitetura PC e servidores Unix, que em geral possuem custo menor, ainda são muito usados em ambientes comerciais e grandes empresas (bancos, empresas de aviação, universidades, etc.). São computadores que anteriormente ocupavam um grande espaço e necessitavam de um ambiente especial para seu funcionamento, atualmente possuem o mesmo tamanho dos demais servidores de grande porte com menor consumo de energia elétrica. Os mainframes são capazes de realizar operações em grande velocidade e sobre um volume muito grande de dados.




[ii] A diferença entre os cartões de computador e o tempo compartilhado é a mesma que fazer lances de um jogo de xadrez pelo correio e on-line.

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